quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Idéia de Deus

I

À voz de Jeová infindos mundos

Se formaram do nada;

Rasgou-se o horror das trevas, fez-se o dia,

E a noite foi criada,


 

Luziu no espaço a lua! Sobre a terra

Rouqueja o mar raivoso,

E as esferas nos céus ergueram hinos

Ao Deus prodigioso.


 

Hino de amar a criação, que soa

Eternal, incessante,

Da noite no remanso, no ruído

Do dia cintilante!


 

A morte, as aflições, o espaço, o tempo,

O que é para o Senhor?

Eterno, imenso, que lh'importa a sanha

Do tempo roedor?


 

Como um raio de luz, percorre o espaço,

E tudo nota e vê –

O argueiro, os mundos, o universo, o justo;

E o homem que não crê.


 

E Ele que pode aniquilar os mundos,

Tão forte como Ele é,

E vê e passa, e não castiga o crime,

Nem o ímpio sem fé!


 

Porém quando corrupto um povo inteiro

O Nome seu maldiz,

Quando só vive de vingança e roubos,

Julgando-se feliz;


 

Quando o ímpio comanda, quando o justo

Sofre as penas do mal,

E as virgens sem pudor, e as mães sem honra.

E a justiça venal;


 

Ai da perversa, da nação maldita,

Cheia de ingratidão,

Que há de ela mesma sujeitar seu colo

A justa punição.


 

Gonçalves Dias – 1823 - 1864

Sarça Ardente

Tira as alparcas dos pés

quando entrares na Presença.

Os calçados aqui aceitos

são os do Evangelho da Paz

somente.


 


 

Descalça também as luvas

na tua chegada, sempre.

As mãos que aqui levantes

sejam mãos bem consagradas,

mãos santas.


 


 

Extirpa os olhos, se maus,

quando vieres, Hoje.

Os olhos admissíveis

são os do corpo luminoso,

os puros.


 


 

Pede a brasa para os lábios

quando ao sopé deste Monte.

A boca que aqui se expresse

será a realmente brunida

com o Fogo.


 


 

Desata o teu coração

quando no Santo dos Santos.

A alma que aqui se atreva

Será tão-só, a abluída

com o Sangue!


 

Rosa Jurandir Braz – 1935 -

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

As orações dos homens

Subam eternamente aos teus ouvidos;

Eternamente aos teus ouvidos soem

Os cânticos da terra.


 

No turvo mar da vida,

Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,

A derradeira bússola nos seja,

Senhor, tua palavra.


 

A melhor segurança

Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;

Esta a luz que há de abrir à estância eterna

O fulgido caminho.


 

Ah! feliz o que pode,

No extremo adeus às cousas deste mundo,

Quando a alma, despida de vaidade,

Vê quanto vale a terra;


 

Quando das glórias frias

Que o tempo dá e o mesmo tempo some,

Despida já, - os olhos moribundos

Volta às eternas glórias;


 

Feliz o que nos lábios,

No coração, na mente põe teu nome,

E só por ele cuida entrar cantando

No seio do infinito.

Machado de Assis – 1839-1908

quarta-feira, 1 de julho de 2009

P-PROBLEMAS E P-PERSPECTIVASDE UM P-PROTESTANTISMO P-PAU-BRASIL


 

É preciso pensar o protestantismo pau-brasil! Protestantismo do país pentacampeão, penta secular, pós-pentecostal, perigosamente problemático, praticamente pós-moderno! Para pensar, em prolegômenos, o protestantismo principiante do principal país português, precisamos proferir palavras propriamente planejadas, previamente preparadas, pesquisando os períodos do protestantismo pau-brasil: partindo-se do pioneiro e principiante, e prosseguindo até o presente e pós-moderno. Possivelmente poderemos prosseguir pincelando o painel polimorfo protestante! Podemos prosseguir? Perfeitamente!

O primeiro protestantismo é o principiante, o primogênito. Primaveril! Parece-me plácido, progressista, platônico e promissor. Produziu profusamente pastores, presbíteros, pregadores e professores. Padeceu perigosamente pelo poder dos padres, pois era protestantismo de persuasão! Porém, prosseguiu, proclamando a Palavra. Para os pesquisadores, pendia para a perspectiva pró-saxônica. Por isso, pasmem! Perdeu a possibilidade de preconizar uma perspectiva protestante pau-brasil. Praticou a perigosa polarização, protelando um protestantismo palpavelmente pentacampeão, um protestantismo perfeitamente pau-brasil. Podemos permanecer perplexos!

Pouco passou para o protestantismo preguiçoso projetar-se. Perfeito protetor do passado, o protestantismo preguiçoso priorizou a preservação do pretérito! Progressista e paleozóico, pôs em prisão a profecia! Pôs-se a prosseguir paulatinamente pelo pavimento pachorrento da postergação. "Podemos praticar posteriormente", pensavam. Para que pressa? Pianissimamente, premiou os prelúdios e os poslúdios. Preconizou as prerrogativas de uma prepotência possivelmente putrefata! Pouco pôde prevalecer, pois permitiu a pluralização parcimoniosa do protestantismo principiante! Era pouco popular, porém pertencia ao "pequeno povo". Ponderado, premeditado, predeterminado, parou! Praticamente parou! Parou por que? Petrificou! Petrificou para propalar o paternalismo, preservando o personalismo profundamente presente no povo paubrasil.

Pareceu-me parcialmente paranóico, permeado pelo pavor: pavor de prosseguir, pavor de permutar, pavor de prejudicar o passado! Puxa!

O protestantismo posterior é o protestantismo pró-pentecostes! Pôs os preteristas em polvorosa! Passou a possuir o perfil de protestantismo propagador! Pareceu prejudicar os plácidos e praticar a preteritoclastia! Passou a pender para uma perspectiva possivelmente paubrasil. Porém, perseguiu o prazer e profetizou a proibição! Prosseguiu proclamando um protestantismo de Parusia. Passou a pregar pomposamente! Porém, passou a possuir a preferência dos pobres. Pôde pregar e profetizar propriamente para os pobres, os paupérrimos, os piores pervertidos e os pretos preteridos pelos poderosos perversos. Precipitadamente, preferiu o profeta e preteriu perigosamente o professor! Possivelmente por isso, passou a pulverizar. Pulverizou em partículas pequeninas, precipitando-se num perfil pavorosamente perturbador! Pôs-se a projetar pontífices próprios. Passou a prognosticar, promover prodígios, perseguir principados e potestades. Proporcionou e potencializou plenamente o perfil polimorfo do protestantismo presente.

Paralelamente, projetou-se o protestantismo possivelmente pró-proletariado. Propulsionado por perspectivas políticas, pendeu para um posicionamento predominante em parte do planeta que preconizava a polarização "proletariado-poderosos". Posicionamente que pulula! Pareceu-me prioritariamente político. Passou a preterir o púlpito, e permutou-o pelo palanque. O pastor-pregador preferiu passar-se por político-prometedor. Perderam-se os papéis! Passaram a praticar a parcialidade, pixando os pecados perversos dos povos poderosos, pisoteando os principais da pirâmide do poder. Porém, politicamente predeterminados, passaram a prender a Palavra para poupar os perversos que possivelmente protegiam o proletariado e praticavam os próprios pecados dos poderosos. Pode? Perdidos, passaram a piscar passionalmente para o pensamento pós-cristão, para os profetas das psicologias prevenidas para com a Palavra e para uma pulverização pós-moderna e perdida do próprio pensamento. Perderam a perspectiva! Preteriram o porto da partida. Procuram o porto promissor, possivelmente perdidos em perspectivas e prazeres passageiros. Papelão! Que Papelão!

Prometendo progredir, pretendo pensar no perfil do protestantismo posterior, o protestantismo pós-pentecostal. Plenamente pós-moderno, é prenhe de problemas perigosíssimos. É perfeitamente paliativo. Passou a proporcionar aos pobres a perspectiva dos poderosos: a prata pode preencher e é prioridade. É o protestantismo do poder, da prosperidade e da psicose. O pastor-profeta passou a possuir o perfil papagueador-promotor. Passa-se por psicólogo, e péssimo psicólogo! Pulverizados na perscrutação da Palavra, porém perversamente projetados pela pragmática da prata, preferem preterir e pisar as palavras dos principais pensadores do próprio protestantismo. Os pós-pentecostais prescrevem práticas parvas e pueris! Proclamam perspectivas perdidas, pisoteando a precisão do pensar! Preconizam pensamentos paliativos! Parecem predeterminados a promover o perecimento pleno dos próprios pobres. Para os pesquisadores, é pretenso protestantismo! Prostituiu-se! Perdeu-se em promiscuidade! Pobre protestantismo! Pobre protestantismo! É preciso praticar o pranto!

Paremos com o pessimismo, pois o protestantismo é promissor, pujante e prevalecente. Precisamos pensar e praticar passionalmente o protestantismo parelhado com a Palavra. Para podermos prevalecer, precisamos ponderar e prosseguir. A primeira ponderação é a prioridade da Palavra. Pressuposto primordial! Precisamos pesquisar, perquirir e pescrutar a Palavra. Propulsionados pelo perscrutar persistente da Palavra do Pai poderemos perfeitamente prosseguir. Os preceitos da Palavra perfazem o próximo passo. Precisamos praticar os preceitos do Príncipe da Paz. Palavra e Prática prosseguem em par! Por fim, penso que precisamos priorizar a prece. Perscrutar e praticar a palavra prepara o profeta, o pregador, o pastor a proferir palavras para o Pai Perene. Praticar a prece profetiza o prevalecer perpétuo pelo poder do Pai.

Palavra, Preceito e Prece. Perfil perpétuo para o povo do Pai Perene e do Príncipe da Paz.

Para sempre permanece a Palavra … (Psalmus 119.89)


 

Luiz Sayão

Pastor e Professor

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A primeira multiplicação dos pães e suas verdades para nós hoje.

“Daí vós mesmos de comer”.


A narração da primeira multiplicação dos pães feita pelos evangelistas nos traz uma forte mensagem de trabalho na obra, dependência e provisão de Deus, partilha e fé.
Jesus havia enviado os doze para pregar o reino de Deus, curar os enfermos e expelir demônios (Mc 6.7-13; Lc 9.1-6).
Ao retornarem para Nazaré (Mc 6.1) apresentaram para o Mestre o relatório do que tinham feito e ensinado (Mc 6.30; Lc 9.10). Estavam cansados, pois muitos não haviam tido tempo nem de se alimentar, então Jesus decidiu de barco ir para a outra banda do mar da Galiléia, levando-os a um lugar retirado em Betsaida para descansar (Mc 6.31; Lc 9.10; Jo 6.1).
Chegando ao local escolhido para o retiro já havia uma multidão à sua espera (Mc 6.33; Lc 9.11). Vendo Jesus a multidão teve compaixão deles, pois eram como ovelhas sem pastor, então lhes ensinava e curava (Mc 6.34; Lc 9.11).
A hora já estava avançada, então os discípulos começaram a ter o seguinte diálogo com Jesus:
- Mestre, despede a multidão para que procurem abrigo e alimento (Mc 6.35-36; Lc 9.12).
Porém Jesus faz uma contraproposta no mínimo angustiante para os discípulos cansados:
- “Isto não é necessário, daí vós mesmos de comer a eles” (Mc 6.37; Lc 9.14)
Felipe então começou a argumentar com Cristo:
- Mestre, nós não temos muita coisa, a não ser se nós mesmos formos comprar, e ainda sim não daria. Temos somente duzentos denários, dá para comprar em torno de 1.600 quilos de pão, mas o que é isto para 5 mil homens? (Mc 6.37; Lc 9.13; Jo 6.7)
Ao que Jesus replica:
- O que vocês têm aí? (Mc 6.38)
Ao que respondem:
- Temos aqui um rapaz com cinco pães e dois peixinhos, mas que é isto para tantos? (Mc 6.38; Jo 6.9)
Jesus ordenou então que todos se assentassem sobre a relva verde em grupos de cem e de cinqüenta. Tomou os pães e peixes, olhou para o céu, deu graças, e repartiu-os e deu-os aos discípulos para que distribuíssem a multidão, e todos comeram fartamente. Mandou aos discípulos que recolhessem as sobras que ainda totalizaram doze cestos (Mc 6.39-43; Lc 9. 14-17; Jo 6.10-13).

Nesta narrativa vemos que nós discípulos de Cristo que formamos a Igreja temos a missão de continuar a missão de Cristo. E esta missão é INTEGRAL, pois Cristo não só ensinava, mas também curava. Sua motivação para isso não era o prazer de estar num púlpito e ser ovacionado por grandes multidões, pois grandes ensinos proferidos pelo Mestre foram dados em diálogos com um ouvinte apenas (Nicodemos e a mulher samaritana). Também não era sua motivação mostrar Seu poder em showzinhos e ser aplaudido. Jesus cuidava do povo porque tinha compaixão dele (Mt 9.36).
Temos algumas aplicações que podemos extrair dessa narrativa:

1 – A missão da Igreja pode ser resumida em dar continuidade à missão integral de Cristo: Salvar o ser humano em sua integralidade, isto pregando o reino de Deus, curando os enfermos, expelindo demônios, multiplicando e dividindo pães...;
2 – Algumas vezes, e não poucas, em nossa vida cristã de serviço os nossos planos de fazer um retiro, de dar uma relaxada para descansar de uma jornada difícil e recobrar as forças acabam ficando para depois. Não podemos deixar quem nos pede ajuda, auxílio, socorro para depois;
3 – O serviço cristão não é feito apenas de kerigma, isto é, proclamação da palavra, mas também de diakonia, serviço ao próximo; aqueles que buscam palavra de Deus para suas almas, também buscam cuidado de Deus para todas as áreas de suas vidas;
4 – Quando precisamos tomar uma decisão, devemos arrazoar qual decisão tomaria;
5 – Jesus quer que realmente nos preocupemos com as pessoas, por isso disse: daí vós mesmos de comer;
6 – Os discípulos tinham uma provisão de 200 denários que davam para comprar mais de uma tonelada de pão, o que ainda seria pouco para a multidão, pois somente os homens eram cinco mil. No entanto Jesus lhes ensina a não confiar somente nas suas posses e forças. Com uma quantidade muito menor, cinco pães e dois peixes, mostrou que gratidão a Deus pelo que se tem, que não devemos desprezar a outrem porque parece ter pouco a nos oferecer em momentos difíceis, e que quando dividimos o temos Deus multiplica de maneira que não nos falte; e cabe à igreja também cuidar do social e do bem estar daqueles que a ela se achegam.
Que a nossa motivação em tudo que fazemos a Deus e ao próximo seja o AMOR (1ª aos Coríntios 13). Amém