“Daí vós mesmos de comer”.
A narração da primeira multiplicação dos pães feita pelos evangelistas nos traz uma forte mensagem de trabalho na obra, dependência e provisão de Deus, partilha e fé.
Jesus havia enviado os doze para pregar o reino de Deus, curar os enfermos e expelir demônios (Mc 6.7-13; Lc 9.1-6).
Ao retornarem para Nazaré (Mc 6.1) apresentaram para o Mestre o relatório do que tinham feito e ensinado (Mc 6.30; Lc 9.10). Estavam cansados, pois muitos não haviam tido tempo nem de se alimentar, então Jesus decidiu de barco ir para a outra banda do mar da Galiléia, levando-os a um lugar retirado em Betsaida para descansar (Mc 6.31; Lc 9.10; Jo 6.1).
Chegando ao local escolhido para o retiro já havia uma multidão à sua espera (Mc 6.33; Lc 9.11). Vendo Jesus a multidão teve compaixão deles, pois eram como ovelhas sem pastor, então lhes ensinava e curava (Mc 6.34; Lc 9.11).
A hora já estava avançada, então os discípulos começaram a ter o seguinte diálogo com Jesus:
- Mestre, despede a multidão para que procurem abrigo e alimento (Mc 6.35-36; Lc 9.12).
Porém Jesus faz uma contraproposta no mínimo angustiante para os discípulos cansados:
- “Isto não é necessário, daí vós mesmos de comer a eles” (Mc 6.37; Lc 9.14)
Felipe então começou a argumentar com Cristo:
- Mestre, nós não temos muita coisa, a não ser se nós mesmos formos comprar, e ainda sim não daria. Temos somente duzentos denários, dá para comprar em torno de 1.600 quilos de pão, mas o que é isto para 5 mil homens? (Mc 6.37; Lc 9.13; Jo 6.7)
Ao que Jesus replica:
- O que vocês têm aí? (Mc 6.38)
Ao que respondem:
- Temos aqui um rapaz com cinco pães e dois peixinhos, mas que é isto para tantos? (Mc 6.38; Jo 6.9)
Jesus ordenou então que todos se assentassem sobre a relva verde em grupos de cem e de cinqüenta. Tomou os pães e peixes, olhou para o céu, deu graças, e repartiu-os e deu-os aos discípulos para que distribuíssem a multidão, e todos comeram fartamente. Mandou aos discípulos que recolhessem as sobras que ainda totalizaram doze cestos (Mc 6.39-43; Lc 9. 14-17; Jo 6.10-13).
Nesta narrativa vemos que nós discípulos de Cristo que formamos a Igreja temos a missão de continuar a missão de Cristo. E esta missão é INTEGRAL, pois Cristo não só ensinava, mas também curava. Sua motivação para isso não era o prazer de estar num púlpito e ser ovacionado por grandes multidões, pois grandes ensinos proferidos pelo Mestre foram dados em diálogos com um ouvinte apenas (Nicodemos e a mulher samaritana). Também não era sua motivação mostrar Seu poder em showzinhos e ser aplaudido. Jesus cuidava do povo porque tinha compaixão dele (Mt 9.36).
Temos algumas aplicações que podemos extrair dessa narrativa:
1 – A missão da Igreja pode ser resumida em dar continuidade à missão integral de Cristo: Salvar o ser humano em sua integralidade, isto pregando o reino de Deus, curando os enfermos, expelindo demônios, multiplicando e dividindo pães...;
2 – Algumas vezes, e não poucas, em nossa vida cristã de serviço os nossos planos de fazer um retiro, de dar uma relaxada para descansar de uma jornada difícil e recobrar as forças acabam ficando para depois. Não podemos deixar quem nos pede ajuda, auxílio, socorro para depois;
3 – O serviço cristão não é feito apenas de kerigma, isto é, proclamação da palavra, mas também de diakonia, serviço ao próximo; aqueles que buscam palavra de Deus para suas almas, também buscam cuidado de Deus para todas as áreas de suas vidas;
4 – Quando precisamos tomar uma decisão, devemos arrazoar qual decisão tomaria;
5 – Jesus quer que realmente nos preocupemos com as pessoas, por isso disse: daí vós mesmos de comer;
6 – Os discípulos tinham uma provisão de 200 denários que davam para comprar mais de uma tonelada de pão, o que ainda seria pouco para a multidão, pois somente os homens eram cinco mil. No entanto Jesus lhes ensina a não confiar somente nas suas posses e forças. Com uma quantidade muito menor, cinco pães e dois peixes, mostrou que gratidão a Deus pelo que se tem, que não devemos desprezar a outrem porque parece ter pouco a nos oferecer em momentos difíceis, e que quando dividimos o temos Deus multiplica de maneira que não nos falte; e cabe à igreja também cuidar do social e do bem estar daqueles que a ela se achegam.
Que a nossa motivação em tudo que fazemos a Deus e ao próximo seja o AMOR (1ª aos Coríntios 13). Amém